Apresentação

Olá, meu nome é Carmen Costa, sou médica, especializada em Pediatria, Neonatologia e Imunoalergologia. Durante a minha formação médica e atividade profissional pude observar que um paciente bem informado é de grande valia para uma boa orientação clínica. Desta forma, como a relação médico- paciente ao meu ver é um caminho que apresenta duas vias decidi construir este blog, no sentido de divulgar informação e por conseguinte exercer uma melhor prática médica.

domingo, 18 de março de 2012

Deixar Chorar Até Dormir? Sim ou Não?  Parte II

Dicas Para Todos Dormirem Melhor (Caminho Para Achar o Botão de Desliga)

1- Rotina

  Os bebês devem aprender a rotina da casa. Lembre-se que para aprender uma rotina o ser humano de modo geral leva 21 dias para incorporá-la ao seu dia-a-dia. Os bebês não tem nenhuma rotina pré-estabelecida então esta deve ser ensinada. É importante que se faça isto na mesma hora e sempre da mesma forma como se fosse um ritual. Pode-se dar banho, fazer massagem, diminuir as luzes, amamentar e colocar no berço como rotina por exemplo.

2- Diminuir estímulos

  Os estímulos sonoros, táteis e visuais devem ser diminuidos pelo menos 1 hora antes de dormir. Desta forma diminua as luzes da casa, não brinque de lutas, ou outras brincadeiras excitantes, não deixe a televisão ligada. Se quiser pode por uma música mais suave.

3- Banho

  Alguns bebês relaxam com a água e gostam do banho, que não deve ser de temperatura muito quente pois quando dormimos nossa temperatura tende a baixar para suportar o metabolismo basal, se a água estiver mais quente demora mais a atingir a temperatura ideal para conciliar o sono. Não excitar demais a criança com brincadeiras. Pode fazer massagens depois do banho com óleo ou cremes hidratantes, de modo geral isto promove relaxamento.

4- Climatização e Luminosidade

  Calor ou frio dificultam o sono, então se estamos no inverno e o bebê não se cobre sozinho utilize um pijama mais quente e/ou um aquecedor no quarto do bebê. Se é verão o pijama deve ser mais fresco e pode se utilizar ar condicionado ou ventiladores somente para colocar o ambiente mais confortável para a criança. Cuide também da umidade do local, o uso de ar condicionado tende a tornar o ar mais seco o que favorece a tosse, umidifique o quarto se for necessário. A luz ambiente deve ser diminuída, e pode haver uma luz de presença no ambiente.

5- Objetos de Afeição

  Coloque na cama do seu bebê um objeto que seja seu companheiro das noites, para que ele se sinta mais confortável na ausência dos pais. Pode ser um bichinho ou brinquedo desde que não ofereça riscos para a saúde e integridade física da criança como por exemplo alergias ou sufoque o bebê.

6- Alimentação

  Os hábitos alimentares também devem entrar no emprego da rotina diária da casa. As crianças (salvo específicas exceções como recém-nascidos por exemplo) não devem ser alimentadas à noite, pois elas aprendem que para induzir o sono só conseguem depois de serem alimentados, o que favorece as cáries, situações como cólicas, e mais necessidades de mudar a fralda que acabam criando outros problemas.

7- Convívio

  As crianças sentem saudades dos pais, reserve um momento do dia para ficar apenas com ele(a), pois às vezes eles só querem um pouco de atenção, carinho e aconchego, que pode ser a qualquer hora do dia.

8- Sonos Diurnos

  As crianças necessitam em sua maioria de sonos diurnos para reposição de neurotransmissores cerebrais, e para relaxar. Eles estão sendo estimulados constante e intensamente, portanto ficam cansados e necessitam de "desligar". Não evite ou protele as sonecas do seu filho, pois de modo geral ele vai ficar mais irritado e agitado e isto dificultará a indução do sono e a qualidade do mesmo.

9- Tensão

  Pense se você tem passado ansiedade para a criança. Se sua vida anda um pouco agitada, se sente cansada(o), muitas vezes ansiosa(o) ou nervosa(o) tenha a certeza que seu filho percebe isto e também vai reagir com ansiedade e agitação. Ninguém consegue dormir quando está tenso, pois para conciliar o sono é preciso estar relaxado. 

10- Hiperestimulação

  As crianças hoje em dia têm uma agenda de atividades muito preenchida, isto gera estresse pela constante estimulação, pense se seu filho não está sendo submetido a uma carga de informação e exigência física muito intensas,  ele terá tempo para ser submetido a isto no futuro, então desacelere.

11- Doenças

  Existem algumas situações clínicas que atrapalham o sono, estas devem ser excluídas pelo seu pediatra. São por exemplo o refluxo (ver post anterior) que pela queimação (sensação de azia) deixa a criança irritada e dificulta o sono, alergias alimentares que provocam cólicas e/ ou dermatites que provocam coceira na pele. O nascimento dos dentes causam desconforto e podem interferir no sono. Doenças de foro respiratório como a presença de obstrução nasal, viroses, rinites, adenoidites também são responsáveis por noites mal dormidas. Lembre-se também dos medicamentos que eventualmente estas crianças usam que podem causar irritabilidade e agitação em alguns casos. Algumas crianças com hiperatividade têm insonias, isto é mais um dado que ajuda no diagnóstico desta doença.

12- Indução do Sono

  A criança deve ser ensinada a induzir o sono, de preferência deve ser colocada no berço quando estiver sonolenta. Para aquelas que mamam no peito se estiverem acordadas devem ser postas na cama pelo pai para que a criança perceba que o restaurante (peito da mãe) não está funcionante durante 24h por dia.
 Quando colocada no berço deve estar aconchegada em uma manta apropriada para a estação em vigência, para que não desperte quando entrar em contato com o frio dos lençóis do berço.
  Lembre-se que a necessidade de horas de sono para descanso é individual. As crianças não têm o nosso ritmo diário (não tem hora para acordar e sair para trabalhar) e não se cansam como nós. Estabelecer a rotina de sono para elas deve ser feito de maneira gradual e com calma.

13- Não entre em Desespero

  Eu sei que é mais fácil dizer que fazer, mas tente. Peça ajuda, não é vergonha nenhuma, afinal é exaustivo e  desesperante ficar sem dormir, interfere demais no nosso ciclo biológico. Faça turnos com o pai, ou com os avós, ou com quem se dispuser a ajudar. Tenha em mente que este período vai passar, você não vai se lembrar e pode até sentir saudade dos tempos em que seu filho queria ficar grudado em você o tempo inteiro (quem tem filho adolescente agora não me deixa mentir...).
Deixar Chorar Até Dormir? Sim ou Não?

   Existem muitas opiniões sobre este assunto, vários livros de especialistas em sono, diversos sites na net, muitos conselhos de amigos e avós, mas todos parecem inúteis às 4 da manhã quando estamos extremamente cansados e com o problema em nossas mãos e não sabemos o que fazer.
   Esta pergunta me é colocada  todas as semanas no consultório e sei como é difícil resolver esta situação.    
    Não há fórmula mágica que resulte igual para todas as crianças. As crianças não são todas iguais, o nível de tolerância delas e de seus pais também não. A necessidade de sono no que diz respeito a quantidade (horas) é individual, o ciclo do sono da criança só vai estar mais estabelecido por volta dos 2 a 3 anos, isto dificulta a implementação destas teorias do sono a todos os bebês indiscriminadamente.

Teorias

  Richard Ferber (Harvard Medical School) e Eduard Estivill (Barcelona-Institut Dexeus) são os especialistas que utilizam a técnica do choro controlado, conhecida também como espera progressiva ou extinção gradual. Nesta técnica a criança é deixada acordada no berço quando o choro começa espera-se uns minutos para entrar no quarto e tranquilizar o bebê ( sem pegar no colo) e depois sai novamente. A espera da criança vai progressivamente aumentando.

  O maior problema desta técnica é o estresse que isto provoca tanto nos pais como nas crianças. As crianças podem ficar extremamente irritadas e isto também irrita os pais, não é de muito fácil execução tem que estar muito confiante que quer executar esta técnica desta forma, para não transmitir o estresse para o bebê que já está suficientemente irritado com a situação.
  William Sears(Universidade da Califórnia) preconiza a execução de métodos completamente diferentes, inclusive sendo favorável ao que a maioria dos pediatras é contra que é dormir com o bebê.
  Observamos assim que teorias existem muitas, verdades absolutas não. Cada criança deve e terá que ser abordada de maneira individual, para que não se sinta abandonada e frustrada com esta situação. Os adultos por outro lado não podem esquecer que não poderão evitar que a criança se sinta frustrada sempre pois este sentimento faz parte da vida e é bom que a criança aprenda a lidar com ele e que consequentemente ganhe mais autonomia e segurança.
A Importância do Lanche Escolar na formação dos Bons Hábitos Alimentares

  Previnir o desenvolvimento dos maus hábitos alimentares é uma das únicas formas de combatermos a obesidade e consequentemente o aparecimento de doenças relacionadas a esta condição clínica, que infelizmente é cada vez mais frequente entre nós. Este é um tema inportantíssimo pois estas doenças têm um impacto extremamente negativo na saúde não apenas durante a infância como também ao longo da vida adulta. 
  Na minha prática clínica é cada vez mais frequente verificar a presença de casos de obesidade,  colesterol alto,  dores articulares e musculares promovidas pelo excesso de peso,  aparecimento de hipertensão nas crianças, valores limítrofes de glicose, dentre outras condições clínicas relacionadas aos maus hábitos alimentares. 
  A época mais eficaz para a prevenção destas doenças é a partir da idade pré-escolar onde há introdução de alimentos novos e formação dos bons hábitos alimentares. Por ter um papel importante na alimentação e formação dos hábitos alimentares saudáveis a preparação do lanche escolar merece toda a atenção e cuidado.
  O lanche ideal  é composto de uma porção de carboidratos (hidratos de carbono), uma de proteína e uma de frutas/vegetais. Pode ser incluída uma opção de bebida cujo perfil nutricional deve ser adequado como por exemplo sumos/sucos de frutas naturais ou bebidas a base de soja. Assim estas pequenas refeições podem auxiliar a oferta de nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento de crianças saudáveis e com bons hábitos alimentares.
  Alimentos como iogurtes, cereais (sem chocolate), todas as frutas, cenouras cruas, fatias de pão (pode ser integral), porções de queijo, bolachas sem recheio, peito de peru, são alguns tipos de alimentos que podem ser utilizados para preparar o lanche das crianças. 
  Atualmente temos em torno de 20% de crianças consideradas obesas na Europa, no Brasil os dados do IBGE giram em torno de 15%, na China as autoridades já chamam a atenção para o crescente aumento dos índices de sobrepeso na sua população, desta maneira é importante conscientizarmos as pessoas para esta terem cuidado com a alimentação de suas crianças e deste modo também  com o restante  de sua família pois é bom darmos bons exemplos aos nossos filhos.

domingo, 4 de março de 2012

Hiperatividade, Doença da Moda?
Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção

  Hoje em dia há que se notar que nós temos um contexto social muito complicado: pais que chegam tarde, cansados e às vezes irritados em casa  e não conseguem dar a devida atenção a vida acadêmica de seus filhos. Por outro lado há professores que trabalham sob uma pressão enorme, muitas vezes insatisfeitos com sua vida profissional, o que pode determinar uma má performance na sala de aula, fazendo com que não consigam conquistar a atenção dos alunos. No meio disto tudo estão as crianças que sob influência destes dois ambientes estressantes tem que mostrar que são boas estudantes e que cumprem sua função de maneira impecável. Desta forma é importante que se façam as investigações para que tenhamos o diagnóstico correto uma vez que isto pode rotular o estudante de maneira equivocada.
  Quando nos deparamos com quadros de falha de aprendizagem o diagnóstico de hiperatividade sempre vem à tona.
   Há duas formas de apresentação embora nem todas as crianças apresentem hiperatividade mas todas mostram dificuldades em manter a atenção ou seja estarem concentradas. Geralmente quando temos a forma hipercinética da hiperatividade o diagnóstico costuma ser mais direto, quando a situação clínica se manifesta só pelo défice de atenção o diagnóstico costuma ser mais complicado. Uma vez estabelecido o diagnóstico o tratamento deve ser iniciado, porém não adianta só dar medicamentos é importante termos tanto na escola quanto em casa formas de abordar e conduzir a doença.

Abordagem da hiperatividade (na escola e em casa)

  Esta criança vai precisar sobretudo de regras e disciplina, o que não quer dizer que tenhamos que ser secos ou brutos, deveremos estabelecer e recordar as normas regularmente. Quando for dar um comando fale com um tom ligeiramente mais alto, porém neutro, com contato ocular e de maneira clara e objetiva.
É melhor falar de maneira positiva: faça isto ao invés de não faças isto. Podemos utilizar sempre reforço de memória visual como as normas escritas no quadro para que a criança se lembre.
  Para melhorar a auto-estima da criança podemos instituir a política dos prêmios quando a criança tem cumprido as regras de maneira satisfatória.
   Evitar chamar a atenção em público da criança, isto só a deixará estressada é melhor fazer de maneira isolada, afinal ninguém gosta de receber críticas na frente de outras pessoas.
  Dar tarefas que a criança possa movimentar-se como chamar alguém, dar recados, apagar o quadro, pois assim a criança pode liberar um pouco de energia.
  As crianças gostam de ser elogiadas, e o hiperativo faz um esforço muito grande para se manter limitado ao espaço físico dado a ele  principalmente na sala de aula então de vez em quando elogie.

Abordagem  do Défice de atenção (na escola e em casa)

  Estas crianças devem estar sempre próximas a professoras e a colegas mais tranquilos, de preferência inseridos em turmas com poucos alunos e menos turbulentas. 
  Qualquer coisa os distrai então sua carteira só deve ter o estritamente necessário para a atividade em questão. Pode ser necessário trabalharem em carteiras isoladas.
  Aqui também as regras e disciplinas deverão ser implementadas para que a criança possa aprender a organizar-se. O contato ocular também é fundamental na comunicação com a criança. E deverá estabelecer-se um sinal para comunicação quando o adulto perceber que a criança está distraída.
  As tarefas deverão ser divididas em pequenas partes para que o aluno tenha noção que terá que acabá-las num determinado tempo e assim verá que consegue concluí-las, isto o tornará mais organizado e mais motivado também.
  A criança quando é chamada à realidade sente-se um pouco perdida e deverá ser ensinada a atitude a tomar, que pode ser: olhar para o quadro, ouvir e entender o contexto que está sendo apresentado, levantar a mão e perguntar, ou perguntar a um colega.

  Concluindo, em ambas as formas um ambiente calmo e um tratamento individualizado são ideais, estabelecer regras, relembrá-las frequentemente de modo oral ou escrito, ter sempre o contato visual e manter o foco da atenção são importantes para o sucesso escolar e do tratamento desta criança.