Apresentação

Olá, meu nome é Carmen Costa, sou médica, especializada em Pediatria, Neonatologia e Imunoalergologia. Durante a minha formação médica e atividade profissional pude observar que um paciente bem informado é de grande valia para uma boa orientação clínica. Desta forma, como a relação médico- paciente ao meu ver é um caminho que apresenta duas vias decidi construir este blog, no sentido de divulgar informação e por conseguinte exercer uma melhor prática médica.

domingo, 29 de janeiro de 2012

"Ser ou Ter? Eis a Questão."



  O nascimento dos filhos traz alegria e preocupação a todos os pais. É natural que nós pais queiramos proporcionar aos nossos filhos a melhor educação e os melhores brinquedos e às vezes podemos exagerar na execução de nossos objetivos.  Esse tipo de atitude pode gerar conflitos na personalidade da criança, principalmente no que diz respeito às diferenças socioeconômicas, cada vez mais marcadas atualmente. Lembrando que as crianças hoje estão cada vez mais frequente e precocemente expostas ao mercado de consumo, temos que ter atenção quando oferecemos presentes, que na realidade são apenas bens de consumo com muita publicidade associada.
  As crianças estão sempre nos observando e desta forma absorvem o comportamento das pessoas mais próximas, isto é dos familiares. Por conta desse fator, precisam se sentir seguras e tentam conquistar a aprovação de seus pais agradando-os de todas as formas. 
  Muitas vezes os pais criam um ambiente ilusório para a criança, numa realidade diferente da vivida pela família. Este tipo de comportamento se intensifica no período em que a criança começa a frequentar a escola, principalmente na fase inicial da pré-adolescência onde eles começam a se comparar e a assumir a personalidade de grupo.
  Em torno dos sete ou oito anos os filhos começam a se dar conta das diferenças existentes entre eles e seus amigos. A criança percebe que o carro que leva os amiguinhos para a escola é importado, enquanto que o carro do pai não é, que o telefone portátil é do último tipo e o dele não é. Com o tempo ela passa a não aceitar bem essa diferença e é nesse momento que os problemas começam.
  A intimidade entre os pais e os filhos é um fator delicado e é preciso ter cuidado com a abordagem, principalmente na pré-adolescência. Os pais devem ficar atentos para não confundirem os papéis de pai e amigo, pois amigos as crianças já têm na escola. Ao se sentirem constrangidos com as atitudes dos pais, as mentiras começam a se tornar frequentes e as atitudes mudam. Os filhos passam a evitar sair com os pais, não convidam os colegas para brincar em casa e ao chegar na escola, pedem para saírem do carro antes do ponto comum de desembarque. No fundo é uma negação por não aceitarem serem diferentes ou estarem um pouco fora do contexto social em que está inserido, pois para o pré adolescente e para o adolescente é importante estar inserido no grupo, e qualquer diferença pode comprometer esta sua posição dentro desta "sociedade".
  Inventar muitas  histórias fantasiosas para os colegas não deve ser um comportamento habitual pois  revela uma certa baixa autoestima. Em muitos casos foram os próprios pais que criaram essa realidade fantasiosa para a criança. Cabe a eles mudar essa situação. A criança precisa saber da sua condição social para não ficar fantasiando a cerca de algo que não existe.  Os pais devem dar espaço para que os filhos falem sobre o assunto, mas para isso eles devem estar abertos a ouvir e saber se posicionarem.
  A partir do momento que a criança conhece suas raízes fica mais fácil entender as limitações financeiras dos pais e não se sentirem desconfortáveis por esse fator. Por volta dos sete anos, os filhos passam a assimilar melhor o ambiente e valores que os cercam. Por esse motivo é importante a participação da escola no processo de educação. Os professores devem prestar atenção no comportamento dos alunos. É normal uma criança mentir e fantasiar sobre assuntos que envolvam dinheiro, mas isso não pode ser frequente. Eles devem conversar com os pais para conhecer um pouco mais sobre a realidade da família e seu contexto social.
  Os educadores têm papel fundamental no processo de formação de caráter e comportamento das crianças e, por isso, devem trabalhar a questão da diversidade e tolerância com as diferenças nas aulas. O que conta são os bens materiais que o coleguinha tem ou se ele é  companheiro e  divertido? É interessante que seja trabalhado em parceria com as famílias a valorização dos pais e as diferenças das pessoas, bem como a valorização do ser humano e não dos objetos que são comprados, é importante que se enfatize a autoestima das crianças pois elas é que são importantes e não o que carregam com elas.
  Essa é uma situação complicada de resolver tanto para os pais quanto para os filhos.  Uma conversa franca e objetiva para tentar solucionar o problema é o que eu recomendo. É importante conduzir a conversa sempre falando a verdade de forma clara. Explique que o querer infelizmente nem sempre é como a realidade. É normal que a criança sofra um pouco pela frustração, mas é importante que ela aprenda a não mentir mais. Frustrar os filhos é necessário de vez em quando. É até melhor que eles se frustrem por uma conversa com os pais, que vão ser carinhosos e atenciosos, do que pela vida que normalmente nos ensina de maneira muito mais cruel.
   Os pais devem pedir sugestões para seus filhos de como agir, principalmente na frente dos colegas. Dessa forma eles sentem que sua opinião é valorizada e que os pais realmente se preocupam com o que eles pensam. Filho gosta de carinho e de se sentir protegido, porém, isso deve ficar restrito ao ambiente familiar a partir de uma certa idade. Evite situações constrangedoras na frente de outras pessoas, pois eles ficam realmente embaraçados. 

  Tente desde cedo não cair no exagero ou ir pela opinião social, pois este é o comportamento esperado para a criança ou adolescente e não o comportamento que os adultos, pais ou não, devem ter. 


2 comentários:

  1. Dra Carmen, é um tema extremamente pertinente este.
    Concordo consigo em todos os aspectos.
    Os meninos não podem ter aquilo que os pais não podem dar. Infelizmente vivemos num mundo de consumismo em que as pessoas são vistas por aquilo que possuem e não por aquilo que são.
    Estas atitudes dos adultos refectem-se nas crianças desde cedo.
    Tenho um caso próximo de uma criança com 5 anos que me pergunta, porque o meu carro é pequeno, porque não tenho uma casa boa, etc. Porque os outros possuem tudo isso.
    Mais uma vez parabéns pelo blog

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  2. Olá Drª Carmen
    Mais um post para nos fazer pensar:)) A minha hora está a começar a chegar:)) A Rita já está a começar a ter algumas reações de pré adolescente:)) agora é que os meus pobres cabelos vão ficar totalmente brancos:))
    Cumprimentos e desejos de continuação de um bom trabalho:))

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