"Ser ou Ter? Eis a Questão."
O nascimento dos filhos traz
alegria e preocupação a todos os pais. É natural que nós pais queiramos proporcionar aos nossos filhos a melhor
educação e os melhores brinquedos e às vezes podemos exagerar na execução de nossos objetivos. Esse tipo de atitude pode
gerar conflitos na personalidade da criança, principalmente no que diz
respeito às diferenças socioeconômicas, cada vez mais marcadas atualmente. Lembrando que as crianças hoje estão cada vez mais frequente e precocemente expostas ao mercado de consumo, temos que ter atenção quando oferecemos presentes, que na realidade são apenas bens de consumo com muita publicidade associada.
As crianças estão sempre nos observando e desta forma absorvem o comportamento das pessoas mais próximas, isto é dos familiares. Por conta desse fator, precisam se sentir seguras e tentam conquistar a aprovação de seus pais agradando-os de todas as formas.
Muitas vezes os pais criam um ambiente ilusório para a criança, numa realidade diferente da vivida pela família. Este tipo de comportamento se
intensifica no período em que a criança começa a frequentar a escola,
principalmente na fase inicial da pré-adolescência onde eles começam a se comparar e a assumir a personalidade de grupo.
Em
torno dos sete ou oito anos os filhos começam a se dar conta das
diferenças existentes entre eles e seus amigos. A criança percebe que o
carro que leva os amiguinhos para a escola é importado, enquanto que o
carro do pai não é, que o telefone portátil é do último tipo e o dele não é. Com o tempo ela passa a não aceitar bem essa
diferença e é nesse momento que os problemas começam.
A intimidade entre os pais e os filhos é um fator delicado e é preciso ter cuidado com a abordagem, principalmente na pré-adolescência. Os pais devem ficar atentos para não confundirem os papéis de pai e amigo, pois amigos as crianças já têm na escola. Ao se
sentirem constrangidos com as atitudes dos pais, as mentiras começam a
se tornar frequentes e as atitudes mudam. Os filhos passam a evitar sair
com os pais, não convidam os colegas para brincar em casa e ao chegar
na escola, pedem para saírem do carro antes do ponto comum de
desembarque. No fundo é uma negação por não aceitarem serem diferentes ou estarem um pouco fora do contexto social em que está inserido, pois para o pré adolescente e para o adolescente é importante estar inserido no grupo, e qualquer diferença pode comprometer esta sua posição dentro desta "sociedade".
Inventar muitas
histórias fantasiosas para os colegas não deve ser um comportamento habitual pois revela uma certa baixa autoestima. Em muitos casos foram os
próprios pais que criaram essa realidade fantasiosa para a criança. Cabe
a eles mudar essa situação. A criança precisa saber da sua condição social
para não ficar fantasiando a cerca de algo que não existe. Os pais devem dar espaço para que os filhos falem sobre o assunto, mas para isso eles devem estar abertos a ouvir e saber se posicionarem.
A partir do momento que a criança conhece suas raízes fica mais fácil
entender as limitações financeiras dos pais e não se sentirem desconfortáveis por esse fator. Por volta dos sete anos, os filhos passam a
assimilar melhor o ambiente e valores que os cercam. Por esse motivo é importante a participação da escola no processo de educação. Os professores devem prestar atenção no comportamento dos alunos. É
normal uma criança mentir e fantasiar sobre assuntos que envolvam
dinheiro, mas isso não pode ser frequente. Eles devem conversar com os
pais para conhecer um pouco mais sobre a realidade da família e seu contexto social.
Os educadores têm papel fundamental no processo de formação de
caráter e comportamento das crianças e, por isso, devem trabalhar a
questão da diversidade e tolerância com as diferenças nas aulas. O que conta são os bens materiais que
o coleguinha tem ou se ele é companheiro e divertido? É interessante que seja
trabalhado em parceria com as famílias a valorização dos pais e as
diferenças das pessoas, bem como a valorização do ser humano e não dos objetos que são comprados, é importante que se enfatize a autoestima das crianças pois elas é que são importantes e não o que carregam com elas.
Essa é uma situação complicada de resolver tanto para os pais quanto para os filhos. Uma conversa franca e objetiva para tentar solucionar o problema é o que eu recomendo. É importante conduzir a conversa sempre falando a verdade de forma
clara. Explique que o querer infelizmente nem sempre é como a
realidade. É normal que a criança sofra um pouco pela
frustração, mas é importante que ela aprenda a não mentir mais. Frustrar os filhos é necessário de vez em quando. É até melhor que eles se frustrem por
uma conversa com os pais, que vão ser carinhosos e atenciosos, do que
pela vida que normalmente nos ensina de maneira muito mais cruel.
Os pais devem pedir sugestões para seus filhos de como agir, principalmente na frente dos colegas. Dessa forma eles sentem que sua opinião é valorizada e que os pais realmente se preocupam com o que eles pensam. Filho
gosta de carinho e de se sentir protegido, porém, isso deve ficar
restrito ao ambiente familiar a partir de uma certa idade. Evite situações constrangedoras na frente
de outras pessoas, pois eles ficam realmente embaraçados.
Dra Carmen, é um tema extremamente pertinente este.
ResponderEliminarConcordo consigo em todos os aspectos.
Os meninos não podem ter aquilo que os pais não podem dar. Infelizmente vivemos num mundo de consumismo em que as pessoas são vistas por aquilo que possuem e não por aquilo que são.
Estas atitudes dos adultos refectem-se nas crianças desde cedo.
Tenho um caso próximo de uma criança com 5 anos que me pergunta, porque o meu carro é pequeno, porque não tenho uma casa boa, etc. Porque os outros possuem tudo isso.
Mais uma vez parabéns pelo blog
Olá Drª Carmen
ResponderEliminarMais um post para nos fazer pensar:)) A minha hora está a começar a chegar:)) A Rita já está a começar a ter algumas reações de pré adolescente:)) agora é que os meus pobres cabelos vão ficar totalmente brancos:))
Cumprimentos e desejos de continuação de um bom trabalho:))