Apresentação

Olá, meu nome é Carmen Costa, sou médica, especializada em Pediatria, Neonatologia e Imunoalergologia. Durante a minha formação médica e atividade profissional pude observar que um paciente bem informado é de grande valia para uma boa orientação clínica. Desta forma, como a relação médico- paciente ao meu ver é um caminho que apresenta duas vias decidi construir este blog, no sentido de divulgar informação e por conseguinte exercer uma melhor prática médica.

sábado, 19 de novembro de 2011


BRONQUIOLITE

Com a chegada do inverno é muito frequente o surgimento de infecções respirtatórias e os pais podem  entrar em contato com este diagnóstico, desta forma resolvi descrever a doença nos aspectos de maior relevância.

O que é?

  Caracteriza-se por uma inflamção nos bronquiolos associada a uma infecção causada mais frequentemente por vírus, e  que é respnsável pela sibilância (chiado).
  É uma doença que normalmente acomete mais meninos que meninas (1.5: 1), e apresenta um padrão sazonal, desta forma verifica-se que  ocorre mais nos períodos de outono e inverno. Sua causa é principalmente o virus sincicial respiratório (VSR), mas pode ser causada por pneumovírus, parainfluenza, influenza, adenovirus, rinovirus e Mycoplasma pneumoniae, mais raramente.
  Sua forma de contágio é através de particulas contaminadas que encontram-se em suspensão no ar após tosse ou espirro, ou contato com secreções respiratórias infectadas transportadas por nossas mãos, o que vem a ser o meio de maior propagação desta doença, que é extremamente contagiosa. Frequentemente a criança é contaminada em casa ou no local onde passa mais tempo durante o dia, como por exemplo a creche.

Um pouco de Anatomia

  O ar entra pelo nariz e dirigi-se para a nasofaringe, desce até a laringe (cordas vocais), e entra num tubo que  é a traquéia, estrutura esta que se divide em dois tubos menores que são os brônquios esquerdo e direito que vão dar ramificações cada vez mais finas (como se fossem os galhos de uma árvore que vão se estreitando), estas últimas terminações chamam-se bronquiolos.

Como ocorre a lesão?

  No que diz respeito ao trato respiratório estes vírus podem causar lesão em qualquer estrutura desde o nariz até os bronquiolos.  A lesão é por inflamação  do bronquiolo, o que faz com que haja edema (inchaço) na parede deste tubo e ocasione o estreitamento do mesmo, que resulta na obstrução da passagem do fluxo do ar. O processo de cicatrização dos bronquiolos pode ocasionar distorção ou estreitamento dos bronquiolos, o que provavelmente é responsável pelo chiado recorrente muitas vezes observado nas crianças após o primeiro episódio de bronquiolite.

Quem são os mais atingidos?

  Os casos mais graves encontram-se nas crianças pequenas, provavelmente em consequência das vias aéreas serem proporcionalmente mais estreitas e terem um sistema imune mais imaturo.É uma doença potencialmente grave e que deve ser tratada quanto antes possível, pois é uma causa frequente de hospitalização. Aproximadamente 50% das crianças apresentam bronquiolite durante os primeiros 2 anos de vida, sendo o pico de incidência entre os 2 e 6 meses. A estimativa é que 10% das crianças saudáveis com bronquiolite necessitem de hospitalização.
  Pacientes que apresentem  doenças pulmonares associadas tais como broncodisplasia (observada principalmente em prematuros), deficiências de imunidade, doenças cardíacas e doenças neuromusculares são mais suceptíveis a formas mais graves de apresentação da doença, com potencial risco de a mesma ser fatal.
Sinais e Sintomas

  Seu período de incubação varia entre 4-6 dias, e habitualmete apresenta-se como uma doença respiratória progressiva, que se assemelha a um resfriado comum na sua fase inicial, onde se verifica  tosse que se intensifica e pode provocar vômitos, principalmente em crianças menores e pingo transparente.
  Com a progressão da doença entre 3-7 dias a  respiração vai ficando ruidosa , aparece a dispnéia (esforço respiratório), o chiado, e a  falta de apetite vai piorando. A dor de ouvido e presença de olhos vermelhos (conjuntivite) também é frequente. 
  Pode ocorrer febre baixa, acompanhada de irritabilidade  que se reflete no aumento do trabalho respiratório.    
  Crianças muito pequenas podem não ter esta evolução e apresentar apnéia (parada prolongada dos movimentos respiratórios) como o primeiro sinal de infecção.
  Verifica-se no exame clínico que a criança parece estar cansada quando respira, há retração dos espaços entre as costelas e imediatamente abaixo  destas, movimentos das narinas que abrem e fecham, e retração supraesternal. Na ausculta pulmonar revela-se sibilos difusos (chiado) e ruidosos. Numa forma mais severa pode estar presente cianose (labios e pele das extremidades arroxeadas) e gemido.

Como é feito o diagnóstico

  Através da história clínica e do exame físico do paciente é feita a suspeita diagnóstica. Pode-se solicitar uma radiografia de tórax para descartar outras patologias de ordem pulmonar, além de nos permitir avaliar melhor a condição clínica do paciente.
  O teste dos antígenos da secreção de nasofaringe é o mais sensível para confirmar a infecção.

Outras doenças também chiam

  É preciso tem em mente que a asma (normalmente não apresenta febre e ocorre em crianças maiores),  a aspiração de objetos para as vias respiratórias, a fibrose cística, as exacerbações de broncodisplasias pulmonares, as pneumonias bacterianas ou víricas, o refluxo gastroesofágico, dentre outras patologias são causas de chiado nas crianças.

Quando internar a criança
  • Idade inferior a 6 meses
  • Moderada dificuldade respiratória
  • Hipoxemia (baixa de oxigênio no sangue)
  • Apnéia
  • Intolerância alimentar
  • Falta de condições nos cuidados domiciliares
  • Crianças com patologias associadas que são consideradas de risco


Tratamento

  A terapia de suporte é o tratamento. Isto inclui a monitorização da febre  da  frequência e do esfoço respiratórios, o fornecimento de líquidos,  a aspiração de vias aéreas quando necessário, e a  administração de oxigênio.
  Os broncodilatadores e corticoides não tem seu uso suportado por trabalhos científicos embora sejam utilizados por alguns profissionais. Em casos muitíssimo especiais pode-se usar ribavirina.
  Após a instituição do tratamento há uma melhora marcada no quadro clínico entre 2-5 dias de terapeutica.
Complicações e Prognóstico

  A maioria das bronquiolites têm bom prognóstico, porém há crianças em que pode ser necessário o uso de ventilação mecânica, pois evoluem para um quadro grave de insuficiência respiratória.
  As bronquiolites normalmente evoluem bem na grande maioria dos casos, embora verifiquem-se situações de hiperreatividade brônquica e disfunções pulmonares que  podem se manter por vários anos num menor número de pacientes. Pode ocorrer recorrência que tende a ser de gravidade moderada e requer o mesmo tratamento feito no primeiro episódio.

Prevenção 
  Anticorpo monoclonal vsr específico (palivizumab) confere proteção para as infecções causadas pelo virus sincicial respiratório e é indicado em casos para lactentes abaixo de 2 anos com doenças pulmonares crónicas como a broncodisplasia, crianças de muito baixo peso ao nascimento, e cardiopatas. 
  A vacina contra o vírus influenza acima dos 6 meses de idade pode previnir contra a doença associada a este vírus.
  Porém a mais barata e eficaz prevenção é a higiene das mãos. O isolamento do paciente também é uma boa prática para limitar a propagação do vírus.


 



1 comentário:

  1. Boa tarde Dra. Carmen,

    Atendendo que não consegui contacta-la através da Clipóvoa, tomei a liberdade de o fazer através do seu Blog, não sabendo se conseguirei obter em tempo útil a informação que pretendo.

    O meu filho, que é seu paciente, tem actualmente 9 meses e aproximadamente 10 kg. Foi-lhe diagnosticada sexta- feira passada a sua primeira bronquiolite. O pediatra que o atendeu disse que era moderada, mas que convinha estar vigilante.
    Prescreveu o seguinte tratamento: nebulização 3 x dia com Atrovent (meia ampola) + Ventilan (0.25 ml) + Soro (tudo misturado). Também prescreveu 2 x dia 25 gotas de Celestone durante 3 dias.
    O filhote tem estado sempre com apetite, não fez febre, só que passados 3 dias, por vezes ainda sentimos os "gatos". Há momentos em que parece que desapareceu tudo, e “estranhamente”, depois voltam. Não se pode dizer que ele piorou desde sexta- feira passada, mas também melhoras não são aquelas que esperávamos.

    Estará a demorar muito para mostrar melhoras consideráveis? Aconselha algum outro tipo de procedimento?

    Desde já grato pela atenção disponibilizada, termino reforçando que utilizei esta via de contacto, pois queria chegar à fala com a Dra. e não sabia como.

    Cordialmente,
    M. Meira.
    mdiasmeira@gmail.com

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